Os  Cátaros:

O Catarismo nasceu no Sul de França, no Languedoc (Langue d´oc- região em que a palavra para sim era oc por oposição à região-norte em que a palavra para sim era oïl, mais tarde oui).

 O Povo desta região sempre teve uma forte tendência para a dissidência, a originalidade, o «ser diferente». No século XI, essa tendência conheceu o ponto mais alto quando alguns cidadãos abandonaram a Igreja Católica, a que chamavam «Igreja dos Lobos» e fundaram o Catarismo.

Tudo começou quando, em 1022, dois monges foram condenados à morte sob a falsa acusação de «adorar o Diabo». Essa condenação foi abertamente criticada pelo Bispo do Condado de Toulouse que foi reunindo à sua volta descontentes com o rumo e as decisões da Igreja. Nas suas reuniões, estes «rebeldes» discutiam abertamente vários dogmas e acabaram por se afastar cada vez mais já não apenas das acções mas também da própria doutrina da Igreja Católica. Acreditavam, por exemplo, que Deus era puro espírito e que a criação do Mundo terreno era obra do Demónio, não de Deus.

No século XII, as paróquias de Toulouse, Carcassone, Albi e Agen abandonaram oficialmente a Igreja Católica e passaram a seguir o Catarismo. O movimento ainda não se chamava assim, os seus seguidores eram conhecidos como Albigenses, do nome de duas das paróquias que tinham aderido: Albi e Agen. O primeiro a referir-se-lhes como Cátaros foi um Pregador que condenava a seita, Eckbert de Schönau, em 1160.

Os Albigenses autodenominavam-se Bons Homens e Boas mulheres, Rejeitavam o dogma da Santíssima Trindade  não acreditavam nem ministravam sacramentos. O Baptismo, o Matrimónio, a Eucaristia, todos eram ignorados ou abertamente criticados.
Dado que consideravam a Criação como obra maléfica, a Castidade absoluta era valorizada porque impediria a reprodução e não prolongaria a prisão dos espíritos à carne.
Os sacerdotes vestiam hábitos negros e consideravam-se Perfeitos. Homens e Mulheres Perfeitos  prezavam e praticavam a castidade pelas razões acima indicadas.
Aceitavam, contudo, que nem todos os fieis teriam essa força e, por isso, para os fieis que não faziam parte do grupo restrito de «puros» e sacerdotes, o sexo era consentido.

Cátaros e Trovadores conviveram na mesma região durante mais de dois séculos e muitas vezes os seus interesses coincidiram uma vez que provinham da mesma sociedade e tinham os mesmos protectores.

As ideologias seguidas por uns e por outros eram, contudo, muito diferentes, mesmo opostas. Tinham, apesar disso, alguns pontos comuns.  Por exemplo, ambos os movimentos libertavam pela primeira vez o Amor da noção de pecado carnal. Isso permitia, até um certo ponto, a libertação da Mulher.
Para os Trovadores, o Amor era virtude, não pecado, para os Cátaros era sempre pecado mas apenas para os Perfeitos. As mulheres das classes sociais mais elevadas aproveitaram estas teorias para reclamarem e usufruirem de um determinado grau de liberdade que nunca tinham conhecido.

As mesma damas que acolhiam e protegiam os Trovadores também eram simpatizantes ou mesmo praticantes do Catarismo. Aliás, a maioria delas sentia-se atraída pelas discussões metafísicas da doutrina cátara e foram mais fieis na hora de defendê-la do que os maridos. Estes viam nela apenas um meio de revolta contra o poder eclesiástico e uma forma de conseguir ficar com as propriedades retiradas à posse da Igreja.

Até meados do século XII, a Igreja Católica tentou dissuadir o Catarismo com pregações e conselhos, advertências e ameaças.Quando, em 1198, foi eleito Papa Inocêncio III, os métodos tornaram-se mais duros e o Papa suspendeu vários bispos da região de Languedoc. Um dos seus representantes excomungou um nobre em Toulouse e foi, por isso, assassinado.

Esse foi o verdadeiro «ponto sem retorno» e nesse mesmo ano Roma autorizou a primeira e única cuzada contra cristãos da História.Seguiu-se uma verdadeira chacina: 7000 fieis, mulheres e crianças, mortos no cerco a Béziers, em 1209. Em 1244, 200 Cátaros foram lançados a uma grande fogueira nos arredores de Montségur. Usava-se a tortura generalizadamente em quase todos os interrogatórios.
Foram precisas décadas à Igreja para conseguir acabar com os Cátaros. Mas…  tê-los-á realmente varrido inteiramente? Ao menos da memória das gentes de Languedoc, não! Basta olhar para os nomes que escolhem dar a ruas e praças das suas cidade. Como Rue des Cathares em Toulouse, ou Rue des Héretiques em Montpellier.










O Primeiro Trovador

 
Guillaume IX  (1027/1086), 6º Conde de Poitiers e 9º Duque de Aquitaine, foi considerado o primeiro poeta e trovador cortesão da História.

Era um homem muito rico, mais rico do que o próprio rei de França e essas riquezas permitiam-lhe pagar ao Papa para se eximir de entrar em campanhas ou em guerras contra os Mouros. Preferiu organizar a sua própria expedição à Terra Santa, em busca de mais poder e possessões, evidentemente, sob a capa de religiosidade. Sofreu uma derrota total.

De regresso às suas terras, o  espírito poético começou a manifestar-se quase de imediato ao mesmo tempo que o comportamento privado escandalizava toda a Corte pelo número de amantes e por ter repudiado a esposa legítima, filha do Conde de Toulouse, altamente estimado e respeitado. Por esses procedimentos foi excomungado pela Igreja Católica.

Foi Guillaume quem inventou as regras dos Trovadores, quem fixou os padrões de uma forma de  lirismo que foi passando de geração em geração entre os troubadours, espalhando-se para os trouvères ( no norte de França) e, mais tarde, influenciando os trovadores da Península Ibérica e de parte da Itália.
          
Aos nossos dias apenas chegaram 11 composições que possam ser atribuídas sem dúvidas a Guillaume IX.
Algumas têm uma estrutura mais rígida, estrofes com rimas alternadas, outras são estrofes em duas partes: uma frons (fronte) rimada e uma coda (cauda), de métrica e rima  (não obrigatória) livres.
O que mais chama a atenção, contudo, é a enorme diferença entre composições que vão beber a uma tradição gaulesa, de uma sensualidade quase brutal e composições muitíssimo refinadas, ao serviço de um Amor idealizado e de uma figura feminina sublimada e perfeita.

A esta Mulher (a Mulher ideal, tal como ele a via), dedicou Guillaume uma verdadeira paixão e assim fixou as regras do Amor Cortês.



Algumas Regras do Amor Cortês (fin´amors)

- Tal como existe um serviço de cavalaria, existe um serviço de amor: o amante deve comportar-se perante a sua senhora como um vassalo perante o suserano.

- A identidade da Senhora Amada deve ser mantida em segredo. Se for necessário referir-se a ela deve o Amante uar um pseudónimo  - «senha».
- O Amor deve ser expresso sempre de forma comedida e discreta -«mesura». Se faltar a este dever de discreção e comprometer com isso a reputação da Senhora, o Amante incorrerá, com quase toda a certeza, no seu desagrado - «sanha».

- O Amante terá a paciência e a persistência necessárias para tentar ultrapassar, se e quando a  Senhora consentir, no ritmo e tempo que esta entender, as 4 fases da vassalagem amorosa:

a-«fenhedor» - fase de sofrimento em que se limita a exprimir o seu sofrimento
b-«precador» - atreve-se a dirigir a palavra e a fazer pedidos à Dama.
c-«entendedor» -o sentimento é correspondido
d -«drut»- o Amor é, finalmente, consumado fisicamente.


 

Al la dolçor del temps novèl

Fòlhon li bòsc, e li aucèl
Chanton chascús en lor latí
Segon lo vèrs del nòvel chan.
Adonc està ben qu’om s’aisí
D’aissò don òm a plus talan.

De lai don plus m’es bon e bèl
Non vei messagèr ni sagèl,
Per que mos còrs non dòrm ni ri,
Ni no m’aus traire adenan,
Tro que sacha bel de la fi
S’el’es aissí com eu deman.

La nóstr’amor vai enaissí
Com la branca de l’albespí
Qu’esta sobre l’arbre en treman,
La nuòit, a la plòja ez al gèl,
Tro l’endeman, que’l sols s’espan
Per las fuèlhas vertz e’l ramèl.

Enquèr me membra d’un matí
Que nos fezem de guerra fi,
E que’m donèt un don tan gran,
Sa drudari’e son anèl:
Enquèr me lais Dièus viuvre tan
Qu’aja mas mans sotz son mantèl!

Qu’eu non ai sonh d’estranh latí
Que’m parta de mon Bon Vezí,
Qu’eu sai de paraulas com van
Ab un brèu sermon que s’espèl,
Que tal se van d’amor gaban,
Nos n’avem la pèssa e’l coutèl.
 


Tradução livre, feita por mim

 
Na doçura da Primavera enchem-se de folhas os bosques e cantam os pássaros, cada um na sua linguagem, segundo o ritmo de um canto novo. É justo, então, que cada ium abra o seu coração àquilo que mais desejar.

Lá do lugar onde vive toda a minha alegria, não vejo chegar nem mensageiro nem carta selada: assim, o meu coração não sossega nem se alegra; e não ouso dar nem mais um passo até saber se a nossa reconciliação é tal como a desejo.

O nosso amor é como o ramo de espinheiro que, à noite, treme sobre o arbusto, exposto à chuva e ao gelo, até que, no dia seguinte, o Sol inunde as suas verdes folhas e os seus ramos.

Ainda recordo essa manhã em que pusemos fim à guerra: ela fez-me uma grande dádiva, o seu amor e o seu anel. Que Deus me deixe ainda viver o tempo suficiente para poder ter um dia as minhas mãos sob o seu manto.

Porque não me interessam projectos alheios que possam afastar.me do meu «Belo-Vizinho» (1)
Bem sei o que significam as palavras e os discursos breves que é costume espalhar por aí nestes casos; cada um pode gabar-se do seu amor mas nós, nós temos realmente a experiência desse Amor.


 (1) – Beau Voisin é uma forma de falar da Amada sem revelar a sua identidade.




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